Meditação Diária - "E não nos ardia o coração?"


Há alguns dias venho pensando sobre a situação de pessoas que, por algum motivo, se rebelam contra o Senhor, abandonando a comunhão com Ele e com a igreja local. Infelizmente, esta é uma triste realidade que diversas famílias cristãs têm enfrentado. Certa vez, fui indagado como deveríamos tratar esses "desviados". A princípio, meu pensamento era que deveríamos tentar, diligentemente, convence-los de seus pecados, tendo em vista uma profissão de fé anterior.

Contudo, mais recentemente, fui bombardeado pela seguinte interrogação: "Será que a profissão de fé destes foi genuína?" A esta pergunta, a resposta que geralmente ouvimos é que "o coração de alguém só quem pode julgar é Deus". Sendo assim, seria impossível classificarmos essa pessoa como alguém "descrente", já que não podemos sondar o coração. O máximo que poderíamos fazer é dizer que, no atual momento, ela está "afastada do Senhor". Sério?!

Note comigo Lucas 24.32 - "​E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?". O texto relata as palavras de dois homens (discípulos) que estavam se deslocando de Jerusalém para Emaús e que se encontravam desanimados com as "ocorrências dos últimos dias" (v.19). Eles depositaram sua fé em Jesus como o Messias (v.21), contudo, esta extinguiu-se porque suas expectativas não foram satisfeitas. Mesmo com provas cabais (v.22-24), eles não davam crédito aos acontecimentos narrados por estas testemunhas oculares.

À luz disso, devemos nos perguntar: Qual era o problema deles? A resposta, apesar da proximidade destes com Jesus, era a INCREDULIDADE. "O verdadeiro problema deles não estava na mente, mas sim no coração" (Wiersbe). Mesmo estando com Jesus antes de Sua morte, estes não expressaram ter a fé genuína. Certamente eles adquiriram muito conhecimento bíblico, entretanto, os seus corações ainda não tinham sido conquistados pela Palavra. Suas mentes ainda não eram cativas a Cristo. Ao falar sobre isto, Warren Wiersbe diz que "entender o conteúdo bíblico pode nos tornar 'senhores do saber' (1 Co
8:1), mas receber a verdade da Bíblia e caminhar com o Salvador fará nosso coração arder".

Voltando a questão introdutória, é necessário fazermos algumas ponderações à luz do texto.

  1. Para a pergunta "será que a profissão de fé destas pessoas 'desviadas' foi genuína?", devemos propor duas resposta:
    • A) Sim, é possível que sua profissão de fé tenha sido genuína e que no presente momento eles estão utilizando os seus membros como instrumentos de iniquidade por causa de uma inanição espiritual (e.g. os santos de Corinto). Este pode ser comparado a um filho que, após um bom banho e instruções dos pais de que ele não pode ir para a caixa de areia, vai resolutamente para o local proibido, a fim de satisfazer seus prazeres. Por essência, ele não é uma pessoa que vive naquele ambiente, contudo, porque encontra prazer lá, tenta se enquadrar neste esquema; 
    • B) Não, é possível que sua profissão de fé tenha sido meramente artificial, não sendo oriunda de um coração que foi transformado pelo evangelho, que "é poder de Deus para todo aquele que crer" (Rm 1.16). A sua situação atual só expressa o que ele é na essência - um pecador escravizado por seu pecado. Se pudéssemos traçar uma comparação, o porco seria o animal ideal. Que proveito há deixar um porco limpinho se o seu habitat natural é a lama? Mesmo que sua aparência externa expresse um animal limpo e bem cuidado, essencialmente ele é descrito como um ser que vive na pocilga e come lavagem. De semelhante modo é aquele "desviado" que, de fato, é incrédulo. Crescer na igreja e ter aparência de crente não modifica o seu interior. Ele ainda deseja viver na pocilga do pecado e se satisfazer com as finas iguarias deste mundo, pois é essencialmente alguém que está separado de Deus, permanecendo no estado deplorável que todos os descendentes de Adão possuem.
  2. Quando o coração não arde por Cristo, é porque ele não crer em Cristo. Foi assim com os discípulos de Emaús e é assim também com aqueles que se dizem 'desviados', mas são incrédulos. A proximidade de alguém a Cristo não destrói a incredulidade presente em seu coração.
Quando a verdade das Escrituras é desvendada, o coração é incendiado com extrema alegria e um desejo ardente para o testemunho. Foi essa ardente alegria que levou John Wesley ao afirmar sobre sua conversão: "Eu senti meu coração estranhamente aquecido".

Que os nossos corações sejam aquecidos a cada dia pelo calor proveniente da Palavra. Façamos das palavras da célebre letra de Francisco de Assis (c. 1225) as nossas: "TU, ÁGUA PURA A BORBULHAR, EM MELODIAS VEM CANTAR: ALELUIA! ALELUIA! TU, FOGO VIVO, AQUECEDOR, INFUNDE EM TODOS NOVO ARDOR; OH, LOUVAI-O! OH, LOUVAI-O! ALELUIA! ALELUIA! ALELUIA!"

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